A FÁBULA DO LOBO TRAFICANTE

A sociedade dos cordeiros condenou aquele lobo há vinte anos de prisão. Era terrível o seu crime: tráfico de entorpecentes. Por sua causa, milhares de cordeirinhos destruíram suas vidas. O lobo era o inimigo número um. 
Vinte anos depois, apesar desse e de outros lobos traficantes terem sido presos, a sociedade dos cordeiros estava mergulhada no vício. Era um problema de segurança nacional. Talvez por isso, um repórter resolveu entrevistar aquele lobo à saída da penitenciária. Estaria ele arrependido? Teria consciência do que provocara? Sentia-se injustiçado?
Afinal, a sociedade dos cordeiros cumpria, rigorosamente, a Lei. Só que alguma coisa estava errada. Lobos traficantes eram presos todos os dias, enquanto aumentava o consumo de tóxico. Qual a opinião de um lobo que pagou vinte anos por um dos piores crimes contra a humanidade?
- Você quer mesmo saber? - foi logo falando o lobo - O problema não se restringe a mim nem aos que me seguiram nessa profissão. Eu cometi parte do crime, reconheço, comercializando um produto proibido.
- E quem cometeu a outra parte? - indagou o repórter, ele próprio irritado com a desfaçatez do lobo.
- Ora, a sociedade dos cordeiros! - afirmou o lobo - Acaso fui eu que provoquei a corrida ao tóxico? Como seria possível eu me tornar um traficante se não houvesse procura do meu produto?
"Isso faz sentido", pensou o repórter. E arriscou outra pergunta:
- Como a sociedade dos cordeiros poderia ter evitado tudo isso?
- Ora, pergunte a ela - respondeu o lobo - Mas dificilmente a sociedade dos cordeiros concordará que tem parte dessa culpa. Para isso, seria necessário que cada cordeiro, em particular, meditasse sobre sua própria vida e o que considera melhor para o seu rebanho. Mas você sabe que meditar, refletir, ponderar e se autoanalisar é muito difícil, quando há tantos lobos à disposição para assumir todas as culpas.
Quando a entrevista com o lobo traficante foi publicada, a sociedade dos cordeiros reagiu: os lobos são criminosos irrecuperáveis, cínicos, arrogantes e diversionistas. Para eles, só mesmo a Pena de Morte.


 A FÁBULA O SONHO DOS RATOS
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Era uma vez um bando de ratos que vivia no buraco do assoalho de uma Casa velha.
Havia ratos de todos os tipos: grandes e pequenos, pretos e brancos, velhos e jovens, fortes e fracos, do campo e da cidade.
Mas ninguém ligava para as diferenças, porque todos estavam irmanados em torno de um sonho comum: um queijo enorme, amarelo, cheiroso, bem pertinho dos seus narizes. Comer o queijo seria a suprema felicidade...
Bem pertinho é modo de dizer. Na verdade, o queijo estava imensamente longe, porque entre ele e os ratos estava um gato...
O gato era malvado, tinha dentes afiados e não dormia nunca.
Por vezes fingia dormir. Mas bastava que um ratinho mais corajoso se aventurasse para fora do buraco para que o gato desse um pulo e, era uma vez um ratinho...
Os ratos odiavam o gato. Quanto mais o odiavam mais irmãos se sentiam. O ódio a um inimigo comum os tornava cúmplices de um mesmo desejo: queriam que o gato morresse ou sonhavam com um cachorro...
Como nada pudessem fazer, reuniram-se para conversar. Faziam discursos, denunciavam o comportamento do gato (não se sabe bem para quem), e chegaram mesmo a escrever livros com a crítica filosófica dos gatos. Diziam que um dia chegaria em que os gatos seriam abolidos e todos seriam iguais.
"Quando se estabelecer a ditadura dos ratos", diziam os camundongos, "então todos serão felizes"...
"O queijo é grande o bastante para todos", dizia um. - "Socializaremos o queijo, dizia outro".
Todos batiam palmas e cantavam as mesmas canções. Era comovente ver tanta fraternidade.
"Como seria bonito quando o gato morresse"! Sonhavam.
Nos seus sonhos comiam o queijo. E quanto mais o comiam, mais ele crescia. Porque esta é uma das propriedades dos queijos sonhados: não diminuem: crescem sempre. E marchavam juntos, rabos entrelaçados, gritando: " o queijo, já!"...
Sem que ninguém pudesse explicar como, o fato é que, ao acordarem, numa bela manhã, o gato tinha sumido.
O queijo continuava lá, mais belo do que nunca. Bastaria dar uns poucos passos para fora do buraco. Olharam cuidadosamente ao redor. Aquilo poderia ser um truque do gato. Mas não era. O gato havia desaparecido mesmo.
Chegara o dia glorioso, e dos ratos surgiu um brado retumbante de alegria.
Todos se lançaram ao queijo, irmanados numa fome comum.
E foi então que a transformação aconteceu.
Bastou a primeira mordida.
Compreenderam, repentinamente, que os queijos de verdade são diferentes dos queijos sonhados.
Quando comidos, em vez de crescer, diminuem.
Assim, quanto maior o número dos ratos a comer o queijo, menor o naco para cada um.
Os ratos começaram a olhar uns para os outros como se fossem inimigos. Olharam, cada um para a boca dos outros, para ver quanto do queijo haviam comido. E os olhares se enfureceram. Arreganharam os dentes. Esqueceram- se do gato. Eram seus próprios inimigos. A briga começou.
Os mais fortes expulsaram os mais fracos a dentadas. E, acto contínuo, começaram a brigar entre si. Alguns ameaçaram a chamar o gato, alegando que só assim se restabeleceria a ordem. Finalmente, o projeto de socialização do queijo foi aprovado nos seguintes termos:
"Qualquer pedaço de queijo poderá ser tomado dos seus proprietários para ser dado aos ratos magros, desde que este pedaço tenha sido abandonado pelo dono".
Mas como rato algum jamais abandonou um queijo, os ratos magros foram condenados a ficar esperando...
Os ratinhos magros, de dentro do buraco escuro, não podiam compreender o que havia acontecido.
O mais inexplicável era a transformação que se operara no focinho dos ratos fortes, agora donos do queijo. Tinham todo o jeito do gato, o olhar malvado, os dentes à mostra.
Os ratos magros nem mais conseguiam perceber a diferença entre o gato de antes e os ratos de agora. E compreenderam, então, que não havia diferença alguma. Pois todo rato que fica dono do queijo vira gato.
Não é por acidente que os nomes são tão parecidos.
Pensem nisso...





A FÁBULA DO RATO


Um Rato, olhando pelo buraco na parede, vê o fazendeiro e sua esposa abrindo um pacote. Pensou logo no tipo de comida que haveria ali. Ao descobrir que era uma ratoeira ficou aterrorizado. Correu ao pátio da fazenda advertindo a todos:

– Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira na casa!!
A Galinha disse:
– Desculpe-me Sr. Rato, eu entendo que isso seja um grande problema para o senhor, mas não me prejudica em nada, não me incomoda.
Então o rato foi até o Porco e disse:
– Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira!
– Desculpe-me Sr. Rato, disse o porco, mas não há nada que eu possa fazer, a não ser orar. Fique tranqüilo que o Sr. Será lembrado nas minhas orações.
O rato dirigiu-se à Vaca. E ela lhe disse:
– O que? Uma ratoeira? Por acaso estou em perigo? Acho que não!
Então o rato voltou para casa abatido, para encarar a ratoeira. Naquela noite ouviu-se um barulho, como o da ratoeira pegando sua vítima.
A mulher do fazendeiro correu para ver o que havia pego.
No escuro, ela não viu que a ratoeira havia pego a cauda de uma cobra venenosa. E a cobra picou a mulher… O fazendeiro a levou imediatamente ao hospital. Ela voltou com febre.
Todo mundo sabe que para alimentar alguém com febre, nada melhor que uma canja de galinha. O fazendeiro pegou seu cutelo e foi providenciar o ingrediente principal. (a Galinha)
Como a doença da mulher continuava, os amigos e vizinhos vieram visitá-la.
Para alimentá-los, o fazendeiro matou o porco.
A mulher não melhorou e acabou morrendo.
Muita gente veio para o funeral. O fazendeiro então sacrificou a vaca, para alimentar todo aquele povo.

Moral da Estória: “Na próxima vez que você ouvir dizer que alguém está diante de um problema e acreditar que o problema não lhe diz respeito, lembre-se que quando há uma ratoeira na casa, toda fazenda corre risco. O problema de um é problema de todos.”






A FÁBULA DA GALINHA VERMELHA

A história da galinha vermelha que achou alguns grãos de trigo e disse a
seus vizinhos:
– Se plantarmos trigo, teremos pão para comer. Alguém quer me ajudar a
plantá-lo?
– Eu não. Disse a vaca.
– Nem eu, emendou o pato.
– Eu também não, falou o porco.
– Eu muito menos, completou o ganso.
– Então eu mesma planto, disse a galinha vermelha.
E assim o fez. O trigo cresceu alto e amadureceu em grãos dourados.
– Quem vai me ajudar a colher o trigo?’ Quis saber a galinha.
– Eu não, disse o pato.
– Não faz parte de minhas funções, disse o porco.
– Não depois de tantos anos de serviço, exclamou a vaca.
– Eu me arriscaria a perder o seguro-desemprego, disse o ganso.
– Então eu mesma colho. Falou a galinha, e colheu o trigo ela mesma.
Finalmente, chegou a hora de preparar o pão.
– Quem vai me ajudar a assar o pão? Indagou a galinha vermelha.
– Só se me pagarem hora extra, falou a vaca.
– Eu não posso por em risco meu auxílio-doença, emendou o pato.
– Eu fugi da escola e nunca aprendi a fazer pão, disse o porco.
– Caso só eu ajude, é discriminação, resmungou o ganso.
– Então eu mesma faço, exclamou a pequena galinha vermelha.
Ela assou cinco pães, e pôs todos numa cesta para que os vizinhos pudessem
ver.
De repente, todo mundo queria pão, e exigiu um pedaço. Mas a galinha
simplesmente disse:
– Não, eu vou comer os cinco pães sozinha.
– Lucros excessivos!. Gritou a vaca.
– Sanguessuga capitalista! . Exclamou o pato.
– Eu exijo direitos iguais! Bradou o ganso.
O porco, esse só grunhiu.
Eles pintaram faixas e cartazes dizendo ‘Injustiça’ e marcharam em
protesto contra a galinha, gritando obscenidades. Quando um agente do
governo chegou, disse à galinhazinha vermelha:
– Você não pode ser assim egoísta…
– Mas eu ganhei esse pão com meu próprio suor. Defendeu-se a galinha.
– Exatamente. Disse o funcionário do governo. Essa é a beleza da livre
empresa.. Qualquer um aqui na fazenda pode ganhar o quanto quiser, mas sob
nossas modernas regulamentações governamentais, os trabalhadores mais
produtivos têm que dividir o produto de seu trabalho com os que não fazem
nada.
A galinha distribuiu os pães aos animais e todos ficaram felizes, inclusive a pequena galinha vermelha, que sorriu e cacarejou:
– Eu estou grata, eu estou grata.
Mas os vizinhos sempre se perguntavam por que a galinha nunca mais fez absolutamente nada, nem mesmo um pão…




As folhas do outono voam desenhando caminhos imprevisíveis à nossa frente.
São surpresas que o vento despeja por onde passa.








Hoje as folhas se espalham sobre o caminho
mas o ar ainda guarda um perfume de primavera...
De mãos dadas como dois românticos velhinhos
continuamos a almejar nossas infindas quimeras.

Deixamos para trás mágoas que oprimem,
coisas inúteis que sobrecarregam a caminhada...
Os nossos olhos o amor maduro exprimem
mesmo que nossas bocas fiquem caladas.

Um campo de girassóis abre-se à nossa espera,
sinal de que não importam as rugas da face...
No inverno ainda se colhe a primavera
desde que permitamos que o sonho nos abrace.

Autora: Carmen Vervloet